JJ DE SOUZA E ESCRITOS
blog de opiniões
domingo, 6 de setembro de 2015
quinta-feira, 20 de junho de 2013
Frases antológicas: Luís Fernando Veríssimo
Algumas de suas frases antólogicas:
"No
Brasil o fundo do poço é apenas uma etapa."
"Eu era contra a crase até aprender a usá-la. Hoje, eu a defendo, para não concluir que perdi meu tempo."
"Por alguma razão, nada me parece tão lúbrico e devasso quanto anões besuntados numa orgia. Mas não falo por experiência."
"Dedico-me aos clássicos: Sófocles, Virgílio, Shakespeare e ao picolé de coco."
"A minha musa inspiradora é o meu prazo de entrega."
"Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais o Titanic."
"A força mais destrutiva do universo é a fofoca."
"As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas."
"Há uma linha muito tênue entre 'hobby' e 'doença mental'."
"Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria 'reuniões'. "
"A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final."
"Só acredito naquilo que posso tocar. Não acredito, por exemplo, em Luiza Brunet."
"A moda dos casais trocados é relativamente nova. Quer dizer, desejar a mulher do próximo é antigo como os dez mandamentos; a novidade é o próximo gostar da idéia e desejar a sua mulher também."
"Eu era contra a crase até aprender a usá-la. Hoje, eu a defendo, para não concluir que perdi meu tempo."
"Por alguma razão, nada me parece tão lúbrico e devasso quanto anões besuntados numa orgia. Mas não falo por experiência."
"Dedico-me aos clássicos: Sófocles, Virgílio, Shakespeare e ao picolé de coco."
"A minha musa inspiradora é o meu prazo de entrega."
"Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais o Titanic."
"A força mais destrutiva do universo é a fofoca."
"As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas."
"Há uma linha muito tênue entre 'hobby' e 'doença mental'."
"Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria 'reuniões'. "
"A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final."
"Só acredito naquilo que posso tocar. Não acredito, por exemplo, em Luiza Brunet."
"A moda dos casais trocados é relativamente nova. Quer dizer, desejar a mulher do próximo é antigo como os dez mandamentos; a novidade é o próximo gostar da idéia e desejar a sua mulher também."
Frases antológicas - Bussunda
Bussunda, pseudônimo de Cláudio Besserman Vianna, foi um humorista brasileiro,
membro do Casseta & Planeta.
Frases:
"Quanto
pior o governo, mais fácil a piada."
"A
'Casseta' me deu tudo. A minha e a popular"
"Arrastão
é uma espécie de free shop de pobre"
"Vamos
ocupar as terras improdutivas das grandes cidades, como o Rio, a começar pelo
círculo central do Maracanã, onde não se produz nada"
"Me
apelidaram de Besserman Sujismundo e depois de Bessermundo, até virar Bussunda.
Mas a versão oficial é que o apelido é a mistura das duas coisas que mais
gosto"
"Vamos
fazer um concurso de lombo, porque não podemos falar bunda"
"Aí, ele
ligou no celular e liberou a bunda. Isso deu uma enorme repercussão"
"O lugar
mais estranho onde fiz amor? São Paulo"
"Somos o
grupo de humoristas mais politicamente correto do Brasil - debochamos de todas
as minorias sem nenhuma distição de sexo, credo ou raça. E temos amparo para
isso porque há no grupo dois judeus, dois negros e até uma bicha, que não posso
dizer quem é"
"Sabe
quando uma loura tem dois neurônios? Quando está grávida"
"Tim
Maia ficou irritado comigo por causa da imitação que fiz dele e disse que ia me
dar porrada. Mas no dia em que ele marcar a briga não vou ficar preocupado,
porque sei que ele vai furar"
"Barcelona
antes das Olimpíadas parecia governada pelo Cesar Maia. Hoje é uma das cidades
mais lindas do mundo. Olimpíada é bom demais"
"A gente
não aceita porque o negócio do Tabajara é ser o pior time do mundo e, se a
gente jogar contra o Brasil, corre o risco de vencer"
"No
Brasil, a televisão sofre preconceito. Mas a produção de TV aqui é a melhor. Na
Espanha e na Itália, por exemplo, as TVs parecem um enorme SBT"
"Na
faculdade pública meus pais não podiam reclamar que pagavam mensalidade e a
faculdade ajudava no meu projeto de vida de não fazer nada. Não me formei, mas
foram ótimos anos"
"Mal por
mal, é melhor ter o de Alzheimer que o de Parkinson, pois é melhor esquecer de
pagar a cerveja do que derramar tudo no chão."
"As
mulheres : Não fique à procura do Príncipe encantado. Procure o Lobo Mau: ele
te enxerga melhor, te ouve melhor e ainda te come."
"Pobre é
foda: sempre diz que não tem nada, mas quando chove diz que perdeu tudo."
Frases antológicas - Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa foi um poeta e escritor
português. É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e o seu
valor é comparado ao de Camões. Escreveu obras com quatro heterônimos
diferentes (Álvaro de Campos, Bernardo Soares, Ricardo Reis e Alberto Caeiro)
além das assinadas com o próprio nome.
Frases:
"As
vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter
nascido."
"Para
viajar basta existir."
"Tenho
em mim todos os sonhos do mundo"
"Tudo
vale a pena quando a alma não é pequena."
"Haja ou
não deuses, deles somos servos."
"O amor
romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e,
em breve, sob a veste do ideal que formamos, que se esfacela, surge o corpo
real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um
caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o principio,
decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da
alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por
eles vestida."
"Ver
muito lucidamente prejudica o sentir demasiado. E os gregos viam muito
lucidamente, por isso pouco sentiam. De aí a sua perfeita execução da obra de
arte."
"A arte
é a auto-expressão lutando para ser absoluta."
"Escrever
é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música
embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de
representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um
sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de
fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do
que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a
expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois
que ninguém fala em verso."
"O meu
passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me
são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de
página e a história continua, mas não o texto."
"Tudo o
que dorme é criança de novo. Talvez porque no sono não se possa fazer mal, e se
não dá conta da vida, o maior criminoso, o mais fechado egoísta é sagrado, por
uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e matar uma criança
não conheço diferença que se sinta."
"Sentir
é criar. Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que
o universo não tem ideias."
"Eu não
escrevo em português. Escrevo eu mesmo."
"A
maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento. Para o homem
vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e
sentir não é mais que o alimento de pensar."
"Querer
não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca
há de poder, porque se perde em querer."
"O
próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não
tenhamos, nisso, um dia a menos nela."
"Precisar
de dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente."
"O poeta
é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que
deveras sente."
Frases antológicas: Albert Camus
Albert Camus foi um escritor e filósofo francês
nascido na Argélia. À grosso modo, seus livros testemunham as angústias de seu
tempo e os dilemas e conflitos já observados por escritores que o precederam,
tal como Franz Kafka, Dostoiévski.
Camus ganhou o Nobel de Literatura em 1957. Entre suas
obras destacam-se: "O Avesso e o Direito", "O estrangeiro",
"O mito de Sísifo", "O homem revoltado", "O exílio e o
reino" e "A Pedra que brota".
Frases
"Charme é conseguir a resposta 'sim' sem ter
feito nenhuma pergunta clara".
"Não quero ser um génio... Já tenho problemas
suficientes ao tentar ser um homem."
"O homem tem duas faces: não pode amar ninguém,
se não se amar a si próprio."
"A política e os destinos da humanidade são
forjados por homens sem ideais nem grandeza. Aqueles que têm grandeza interior
não se encaminham para a política."
"O que é a felicidade além da simples harmonia
entre o homem e a vida que ele leva?"
"Começar a pensar é começar a ser
atormentado."
"A negação é o Deus dos existencialistas."
"O absurdo me esclarece o seguinte ponto: não há
amanhã."
"O homem cotidiano não gosta de demorar. Pelo
contrário, tudo o apressa. Ao mesmo tempo, porém, nada lhe interessa além de si
mesmo, principalmente aquilo que poderia ser."
"Um homem sem memória é um homem sem passado. Mas
um homem que não sabe fantasiar é um homem sem futuro."
"O absurdo é a razão lúcida que constata os seus
limites".
"Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a
própria infelicidade."
"O homem é a única criatura que se recusa a ser o
que é."
"Ah! Meu caro, para quem está só, sem Deus e sem
senhor, o peso dos dias é terrível..."
"Mesmo no banco dos réus, é sempre interessante
ouvir falar de si mesmo."
"A grandeza consiste em tentar ser grande. Não há
outro meio."
"Outono é outra primavera,
cada folha uma flor."
terça-feira, 18 de junho de 2013
Pensa que eu sou Burro Doutor?
Pensa que eu sou Burro Doutor?
A consulta estava marcada para as duas horas, Carlos chegou com meia hora de antecedencia, consultório lotado, isso só acontece com médico bom, pensou Carlos, deve ser um “deus” uma sumidade da medicina, para ter tanta gente nesse consultório(todo mundo já estava lá quando ele chegou) e demorar tanto assim a presentear os seus súditos com a sua ilustre presença.
“Gente! Por que esse filha da puta não chega?” - pensou Carlos ,”quem ele pensa que é? O Papa?”Pois já passava das quatro, seis pessoas se amontoavam em uma salinha de espera do tamanho de um ovo.
Carlos Eduardo Lacerda, diabético, revascularizado, hipertenso, todo lascado, porém sem nunca ter fumado, nem bebido, nem trepado com uma prostituta, ilustre algoz, gente de caráter, tremendo vendedor de carros usados, torcedor do Fluminense, estava ali esperando o médico, em pé, passando uma das maiores humilhações de sua vida.
Diante do seus dois maiores infortúnios: o pé doendo e o mijo escorendo, ele lutava no seu sacrossanto dia no qual um médico com o nome infeliz de Dr. Barata ia enfiar o dedo no meio do seu c....
Não pense o leitor que Carlos era um covarde, negativo, ele enfrentava bem, não ia correr, era macho, como seu pai, tinha orgulho de suas origens nas Minas Gerais.
Teve uma escola memorável, foi educado no colégio Pio XII, não faria alarde, manteria a compostura, aguentaria o sacrifício, pois, diante de Deus e dos Homens, ele tinha fé na chegada do médico(ainda hoje) e que o tamanho dedo dele fosse pequeno e que fosse gentil em suas condutas médicas, assim tudo acabaria bem, sem sangramentos.
Na espera interminável e com todas aquelas pessoas na frente, pois havia chegado depois do grupo(de pacientes), uma turma heterogenia, estava de pé(não havia lugares para sentar, todos ocupados), ele estava preocupado com a demora, mas pensou “quem sabe os últimos serão os primeiros”?
Carlos, observador atento, escorreu seu olhar de um lado para o outro esquerda-direita, direita-esquerda, como na revolução francesa, à esquerda de Carlos, o que seria a esquerda da porta de saida de onde Carlos via toda a sala, logo a entrada a recepção e a recepcionista, uma bancada minima e uma cadeira giratória, a esquerda um banco pequeno duas pessoas: o primeiro magro, de rosto fino e aspecto tuberculoso, testa lisa e ele parecia meio curvado para frente, o segundo, sentado ao lado do primeiro, atlético, como um esportista (certamente gosta de rock, vestia, despreucupadamente, uma camisa com caveira), à direita, três pessoas, em um banco maior, mais apropriado as aspirações da direita exigente deste país, sentados um do lado do outro, dando uma pequena folga, pois os de direita não se tocam, não gostam de intimidade, em ordem: o senhor de barba, aparada e bem feita, aquele era um homem distinto, usava sapatos caros e parecia um alto funcionário da justiça, ao seu lado , um segundo, era um homem simpático de chapéu, simulava um artista mambembe ,finalmente, desafiando as leis da física quântica, dos bons costumes e da lógica matemática, uma senhora, um tanto misteriosa, por sua postura, além disso, em consultório errado, pois o atrasado Dr. Barata era conhecido andrologista.
Carlos, ali de pé ficou com olho grudado nela ,senhora mais que suspeita.
-Quem sabe o médico morreu, não é, vai ver que ali fora é o velório dele? - pensou alto, palavras escapuliram entre seus dentes, a atendente olhou por cima dos óculos, Carlos sorriu, depois de ouvir :”minha nossa”, “credo”, “que é isso', “um doutor tão bom”.
A maioria das pessoas em uma sala de espera não conversa isso era certo, porém aquele povo, em silencio lendo um livro, como se estivesse no paraíso !Não falou mais nada (cambada de abutres) e se colocou no centro, nem de esquerda nem de direita.
Cinco horas da tarde, a recepcionista estava calma, mascava chicletes, tinha olhos amendoados e lábios cheios, talvez um caso amoroso do médico, se ele não tem compromisso com horário, quem poderia dizer que não têm problemas no casamento?
-Senhora – disse Carlos – quando o medico vai chegar, minha consulta está marcada para as duas horas, já são quatro e meia, será que ele vem?
-O Doutor Barata é um cirurgião, deve estar em uma urgência, não se preocupe o senhor será o primeiro.
“Pelo menos isso, serei o primeiro!” Pensou Carlos, no entanto não entendeu a vantagem, mas vantagem não se entende, vantagem se aceita, a situação dele era a mais miserável naquele momento, vitima de uma incontinência urinaria nervosa, tinha que usar fraldas para sair e não podia ficar muito tempo em pé, desde a sua chegada há três horas, não tinha nem lugar para sentar, foi até o bebedouro, tomou o seu quinto copo de água, e depois tomou o sexto cafezinho.
Olhou em volta.
“Que povinho desclassificado, como eles aguentam uma afronta dessas? E essa mulher o que está fazendo aqui?” Carlos olhou para o relógio novamente, era a quinta vez que olhava naquele minuto.
Deu cinco horas, ele estava abeira de explodir, ia falar um palavrão, dá uma pancada no barbudo.
Por que queria enfiar a pancada no de Barba ? Poderia pensar um leitor da paz.
Simples: um ser humano não pode ser tão calmo assim, a revolta do mundo estava morrendo, o sagrado direito da indignação, todo mundo aceitava tudo, naquele exato momento tinha vontade de gritar palavra de ordens tipo:"fora o puto do Dr. Barata", "abaixem a passagem de onibus', "diretas já", era a vontade de Carlos, que poderia cometer uma besteira, pois havia molhado os fundilhos de urina, havia uma rodela de urina no seu paletó na bunda, sua fralda ultra protetora falhou, após resistir heroicas cinco horas do miserável atraso do Dr. Barata.
-Senhor a sua calça está molhada – disse a mulher.
-Obrigado, sentei no molhado – disse Carlos sem graça.
A mulher pegou em uma sacola achou alguma coisa lá, Carlos deu um grito quando encostou a mão na coisa.
-Uma fralda!
-Conheço incontinência urinária quando vejo uma, tive treze filhos– disse a senhora – é uma merda ficar fedendo a mijo, por isso trago a minha fralda, em todo evento que vai demorar.
Carlos aceitou e foi se trocar. Quando voltou, suas coisas particulares(seu pinto e saco) estavam apertadas, seu pinto estava tão apertado que parecia que ia explodir, a vovó era pequena(magricela), deu para Carlos uma fralda menor(p), então Carlos teve que, de forma heroica. colocar uma fralda dois números menor(g).Revoltado foi até a recepcionista.
-Querida – disse Carlos se aproximando da recepção e fugindo do olhar da velha - minha filha, liga para esse Dr. Barata, estou ficando nervoso, isso piora a minha condição(apontou com dois dedos para a direção da fralda), nem tem cadeira para sentar aqui. - disse Carlos.
Pâmela, era o que estava escrito no crachá, deu um sorriso e levantou foi lá dentro e voltou empurrando uma cadeira de rodinha sem braço, de dentro do consultório do Dr. Barata, um horror, rasgo no forro, assento puído e com fedor de merda, uma coisa que deveria estar no lixo.
“Mais que Filha da puta”, pensou Carlos, “eu há quatro horas em pé, a desgraçada vendo o meu sofrimento e nada”. Carlos sentou na cadeira sem braço, manca e com encosto quebrado, que delicia(rodando pra lá, pra cã, ela rangia, tentando pertubar os outros), essa cadeira deve ter sido usada em uma seção de tortura corporal, pensou. Agora poderia ficar sentado naquela cadeira(rodando e rangendo, rengue-rengue perturbador) para sempre, esperando o filho da puta do Barata, encehendo o saco dos outros,pacatos, educados e integros pacientes.
Foi quando o Dr. Barata passou (Carlos falou “graças a Deus ”) engomadinho, todo de branco, impecável, bigode preto e cabelos cortados à maneira militar, óculos modernos e uma maleta, disse na passagem.
-Senhorita Pâmela, cancele a consulta, tenho uma urgência cirúrgica.
Carlos sentiu uma dor no coração.
-Cancela porra nenhuma? - Carlos gritou, firme, como um bom mineiro deve fazer, o palavrão escapuliu, pois não era de falar palavrão em publico, andou até o médico, divagar porque o seu saco estava apertado e disse - escuta aqui, tem cinco horas que estou esperando.
-Eu não lhe devo satisfações, procure outro médico se quiser, não posso atendê-lo pois alguém em condições piores me espera? – disse Dr Barata.
Carlos aloprou, quem poderia estar em condições piores que a dele.
-Quem te fez um Deus? Vida e morte na sua mão e nada de responsabilidade – Carlos apontou para as pessoas que permaneciam calmas – olha essa gente todas dependente de você, fez ou não fez o juramento de Hipócrates?
-Não, não fiz – disse o Dr Barata.
Carlos, todo mijado, pegou no braço do Dr. Barata e disse.
-Olha para aquela senhora idosa – disse e procurando as palavras certas e continuou – olhe a sua missão escorrendo pelos dedos, pensa em Deus homem,Jesus o médico dos médicos...
-Não senhor – disse a senhora – nós não estamos aqui pela consulta, estamos só pela cadeira e que tem uma distribuição de senhas para um programa de talentos na sala ao lado e lá não tem cadeiras suficientes, então esse consultório alugou as cadeiras a dez reais cada.
-Show de talentos? – disse Carlos.
-Eu assovio – disse a senhora.
-Eu rebolo- disse o barbudo.
A consulta estava marcada para as duas horas, Carlos chegou com meia hora de antecedencia, consultório lotado, isso só acontece com médico bom, pensou Carlos, deve ser um “deus” uma sumidade da medicina, para ter tanta gente nesse consultório(todo mundo já estava lá quando ele chegou) e demorar tanto assim a presentear os seus súditos com a sua ilustre presença.
“Gente! Por que esse filha da puta não chega?” - pensou Carlos ,”quem ele pensa que é? O Papa?”Pois já passava das quatro, seis pessoas se amontoavam em uma salinha de espera do tamanho de um ovo.
Carlos Eduardo Lacerda, diabético, revascularizado, hipertenso, todo lascado, porém sem nunca ter fumado, nem bebido, nem trepado com uma prostituta, ilustre algoz, gente de caráter, tremendo vendedor de carros usados, torcedor do Fluminense, estava ali esperando o médico, em pé, passando uma das maiores humilhações de sua vida.
Diante do seus dois maiores infortúnios: o pé doendo e o mijo escorendo, ele lutava no seu sacrossanto dia no qual um médico com o nome infeliz de Dr. Barata ia enfiar o dedo no meio do seu c....
Não pense o leitor que Carlos era um covarde, negativo, ele enfrentava bem, não ia correr, era macho, como seu pai, tinha orgulho de suas origens nas Minas Gerais.
Teve uma escola memorável, foi educado no colégio Pio XII, não faria alarde, manteria a compostura, aguentaria o sacrifício, pois, diante de Deus e dos Homens, ele tinha fé na chegada do médico(ainda hoje) e que o tamanho dedo dele fosse pequeno e que fosse gentil em suas condutas médicas, assim tudo acabaria bem, sem sangramentos.
Na espera interminável e com todas aquelas pessoas na frente, pois havia chegado depois do grupo(de pacientes), uma turma heterogenia, estava de pé(não havia lugares para sentar, todos ocupados), ele estava preocupado com a demora, mas pensou “quem sabe os últimos serão os primeiros”?
Carlos, observador atento, escorreu seu olhar de um lado para o outro esquerda-direita, direita-esquerda, como na revolução francesa, à esquerda de Carlos, o que seria a esquerda da porta de saida de onde Carlos via toda a sala, logo a entrada a recepção e a recepcionista, uma bancada minima e uma cadeira giratória, a esquerda um banco pequeno duas pessoas: o primeiro magro, de rosto fino e aspecto tuberculoso, testa lisa e ele parecia meio curvado para frente, o segundo, sentado ao lado do primeiro, atlético, como um esportista (certamente gosta de rock, vestia, despreucupadamente, uma camisa com caveira), à direita, três pessoas, em um banco maior, mais apropriado as aspirações da direita exigente deste país, sentados um do lado do outro, dando uma pequena folga, pois os de direita não se tocam, não gostam de intimidade, em ordem: o senhor de barba, aparada e bem feita, aquele era um homem distinto, usava sapatos caros e parecia um alto funcionário da justiça, ao seu lado , um segundo, era um homem simpático de chapéu, simulava um artista mambembe ,finalmente, desafiando as leis da física quântica, dos bons costumes e da lógica matemática, uma senhora, um tanto misteriosa, por sua postura, além disso, em consultório errado, pois o atrasado Dr. Barata era conhecido andrologista.
Carlos, ali de pé ficou com olho grudado nela ,senhora mais que suspeita.
-Quem sabe o médico morreu, não é, vai ver que ali fora é o velório dele? - pensou alto, palavras escapuliram entre seus dentes, a atendente olhou por cima dos óculos, Carlos sorriu, depois de ouvir :”minha nossa”, “credo”, “que é isso', “um doutor tão bom”.
A maioria das pessoas em uma sala de espera não conversa isso era certo, porém aquele povo, em silencio lendo um livro, como se estivesse no paraíso !Não falou mais nada (cambada de abutres) e se colocou no centro, nem de esquerda nem de direita.
Cinco horas da tarde, a recepcionista estava calma, mascava chicletes, tinha olhos amendoados e lábios cheios, talvez um caso amoroso do médico, se ele não tem compromisso com horário, quem poderia dizer que não têm problemas no casamento?
-Senhora – disse Carlos – quando o medico vai chegar, minha consulta está marcada para as duas horas, já são quatro e meia, será que ele vem?
-O Doutor Barata é um cirurgião, deve estar em uma urgência, não se preocupe o senhor será o primeiro.
“Pelo menos isso, serei o primeiro!” Pensou Carlos, no entanto não entendeu a vantagem, mas vantagem não se entende, vantagem se aceita, a situação dele era a mais miserável naquele momento, vitima de uma incontinência urinaria nervosa, tinha que usar fraldas para sair e não podia ficar muito tempo em pé, desde a sua chegada há três horas, não tinha nem lugar para sentar, foi até o bebedouro, tomou o seu quinto copo de água, e depois tomou o sexto cafezinho.
Olhou em volta.
“Que povinho desclassificado, como eles aguentam uma afronta dessas? E essa mulher o que está fazendo aqui?” Carlos olhou para o relógio novamente, era a quinta vez que olhava naquele minuto.
Deu cinco horas, ele estava abeira de explodir, ia falar um palavrão, dá uma pancada no barbudo.
Por que queria enfiar a pancada no de Barba ? Poderia pensar um leitor da paz.
Simples: um ser humano não pode ser tão calmo assim, a revolta do mundo estava morrendo, o sagrado direito da indignação, todo mundo aceitava tudo, naquele exato momento tinha vontade de gritar palavra de ordens tipo:"fora o puto do Dr. Barata", "abaixem a passagem de onibus', "diretas já", era a vontade de Carlos, que poderia cometer uma besteira, pois havia molhado os fundilhos de urina, havia uma rodela de urina no seu paletó na bunda, sua fralda ultra protetora falhou, após resistir heroicas cinco horas do miserável atraso do Dr. Barata.
-Senhor a sua calça está molhada – disse a mulher.
-Obrigado, sentei no molhado – disse Carlos sem graça.
A mulher pegou em uma sacola achou alguma coisa lá, Carlos deu um grito quando encostou a mão na coisa.
-Uma fralda!
-Conheço incontinência urinária quando vejo uma, tive treze filhos– disse a senhora – é uma merda ficar fedendo a mijo, por isso trago a minha fralda, em todo evento que vai demorar.
Carlos aceitou e foi se trocar. Quando voltou, suas coisas particulares(seu pinto e saco) estavam apertadas, seu pinto estava tão apertado que parecia que ia explodir, a vovó era pequena(magricela), deu para Carlos uma fralda menor(p), então Carlos teve que, de forma heroica. colocar uma fralda dois números menor(g).Revoltado foi até a recepcionista.
-Querida – disse Carlos se aproximando da recepção e fugindo do olhar da velha - minha filha, liga para esse Dr. Barata, estou ficando nervoso, isso piora a minha condição(apontou com dois dedos para a direção da fralda), nem tem cadeira para sentar aqui. - disse Carlos.
Pâmela, era o que estava escrito no crachá, deu um sorriso e levantou foi lá dentro e voltou empurrando uma cadeira de rodinha sem braço, de dentro do consultório do Dr. Barata, um horror, rasgo no forro, assento puído e com fedor de merda, uma coisa que deveria estar no lixo.
“Mais que Filha da puta”, pensou Carlos, “eu há quatro horas em pé, a desgraçada vendo o meu sofrimento e nada”. Carlos sentou na cadeira sem braço, manca e com encosto quebrado, que delicia(rodando pra lá, pra cã, ela rangia, tentando pertubar os outros), essa cadeira deve ter sido usada em uma seção de tortura corporal, pensou. Agora poderia ficar sentado naquela cadeira(rodando e rangendo, rengue-rengue perturbador) para sempre, esperando o filho da puta do Barata, encehendo o saco dos outros,pacatos, educados e integros pacientes.
Foi quando o Dr. Barata passou (Carlos falou “graças a Deus ”) engomadinho, todo de branco, impecável, bigode preto e cabelos cortados à maneira militar, óculos modernos e uma maleta, disse na passagem.
-Senhorita Pâmela, cancele a consulta, tenho uma urgência cirúrgica.
Carlos sentiu uma dor no coração.
-Cancela porra nenhuma? - Carlos gritou, firme, como um bom mineiro deve fazer, o palavrão escapuliu, pois não era de falar palavrão em publico, andou até o médico, divagar porque o seu saco estava apertado e disse - escuta aqui, tem cinco horas que estou esperando.
-Eu não lhe devo satisfações, procure outro médico se quiser, não posso atendê-lo pois alguém em condições piores me espera? – disse Dr Barata.
Carlos aloprou, quem poderia estar em condições piores que a dele.
-Quem te fez um Deus? Vida e morte na sua mão e nada de responsabilidade – Carlos apontou para as pessoas que permaneciam calmas – olha essa gente todas dependente de você, fez ou não fez o juramento de Hipócrates?
-Não, não fiz – disse o Dr Barata.
Carlos, todo mijado, pegou no braço do Dr. Barata e disse.
-Olha para aquela senhora idosa – disse e procurando as palavras certas e continuou – olhe a sua missão escorrendo pelos dedos, pensa em Deus homem,Jesus o médico dos médicos...
-Não senhor – disse a senhora – nós não estamos aqui pela consulta, estamos só pela cadeira e que tem uma distribuição de senhas para um programa de talentos na sala ao lado e lá não tem cadeiras suficientes, então esse consultório alugou as cadeiras a dez reais cada.
-Show de talentos? – disse Carlos.
-Eu assovio – disse a senhora.
-Eu rebolo- disse o barbudo.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Nota Máxima
Nota Máxima
por JJ DE SOUZA
Nota Máxima
Os dias
passam e me lembro daquela conversa, pode ser uma lembrança triste, melancólica,
mesmo assim eu gosto da historia. É uma sensação agradável ficar sentado ali
olhando a minha filha procurando ser a melhor da turma para me impressionar e
eu de alguma forma gostando disso, estimulando. Assim eu crio o vinculo com minha filha a
amarra que nunca mais se solta e tudo isso me faz lembrar meu velho e querido pai
naquele dezembro de 86.
-Pai,
eu não tirei nota máxima – disse minha filha no começo da tarde, quando fui
busca-la na escola.
Seus
olhos estavam vermelhos e dava para perceber a tristeza envolvendo o seu
semblante inocente, seu rostinho puro de princesa, nesta época, com dez anos de
idade, disposta a alegria quase todos os dias, sem notar o mundo podre ao
redor, vivia pisando em rosas, procurando sonhar com um mundo melhor, cheios de
duendes, fadas e príncipes, um sonho que um dia já tivemos, esperanças que
motivaram o nosso crescimento atual e que se perderam no dia a dia da luta pela
sobrevivência e que agora é fonte onde nossa continuação banha a sua alma. Um
retorno ao verdadeiro caminho que leva a felicidade( se existe esse caminho só
as crianças conhecem), sinceramente, essa troca de sentimentos é uma coisa tão
bela que pode arrancar lagrimas de velho cirurgião carrancudo que convive todos
os dias com a morte e com a doença, que não acredita mais em nada.
-Por
que essas lágrimas filha? - perguntei, sabendo o motivo da pergunta tola, pois
tem perguntas que são assim: ditas para dentro, feitas para quem pergunta.
-Sei
que ia ficar feliz se tirasse tirado uma nota máxima – me abraçou com um pouco mais de
lagrimas nos olhos.
Olhei
para os olhinhos cheios de lagrimas e sentei no meio fio.
-Senta
aqui – disse a ela batendo na calçada para que ela sentasse do meu lado, as
ruas estavam lentas, os carros passavam em sua busca por posições, um ônibus
escolar deixava meninas e meninos anônimos em escolas, sem pai e mãe, no
entanto eu estava ali, no meu mundo com o que tinha de mais importante para
mim, na hora mais sagrada de todas.
Um momento que não queria perder, no entanto jamais seguraria aquele
momento para sempre, hoje sei disso.
Ela
sentou e aconchegou o corpinho minúsculo ao meu.
Pai
é proteção. Pai é tudo. Contei um historia para ela, pensando no meu pai.
-Em 86 eu tinha a sua idade, nessa época
havia uns relógios com jogos eletrônicos, sempre quis ter um, coisa bobinha, os
meninos de hoje nem ligariam, carrinhos de corrida quadradinhos – disse
passando a mão nos seus cabelos ternos.
-O
vovô te deu?
Vou
te contar essa historia toda – tirei do bolso da calça um relógio velho e
surrado , claro que estava sem bateria, guardei aquele relógio por trinta anos
e agora era o momento de mostrar a minha filha.
-Ele
te deu, você tirou nota máxima? – disse a minha filha, seus lábios lindos
iguais ao da mãe, cheios e cor de framboesa, olhos puxadinhos como os meus.Minha
filha representava uma conexão com minha
identidade, conexão com a alguma coisa verdadeira.
Minha mulher, parte importante de tudo aquilo, fica ausente
naquele momento, por respeito ao pai, ela olhava tudo do outro lado da rua de
lagrimas nos olhos.
-Não,
por incrível que parecça, não tirei nota máxima – disse, lembrando-me do meu
pai, que por infelicidade estava morto, abatido por um AVC há dois anos, senti
falta daquela proteção.
-Como
você ganhou o relógio? – disse minha filha segurado o relógio como se ele fosse
um filhote de passarinho.
-Naquele
dia eu cheguei na minha casa com as provas, havia perdido a nota maxima em três
matérias, entreguei ao meu pai que passou a mão na minha cabeça e não disse
nada, apenas olhou as notas e foi dormir, no outro dia o relógio estava na
minha cama, bem sedo.
Que
momento difícil? Não consegui segurar as lagrimas e chorei com saudade do meu
pai,choro sufocado,sem demonstrar.Acho que meu pai,que não conviveu com a neta,
teria um grande orgulho ao vê-la sair da escola.
-Não chora pai – disse colocando a mãozinha
no meu olho, uma regra, pai não chora.
Enxuguei as lagrimas com um lenço e continuei
a historia.
-Procurei
seu avô pela manhã e disse que não merecia o relógio, pois não havia tirado a
nota máxima, mas que guardasse aquele troféu para o bimestre seguinte que eu ia
tirar, com certeza. Meu pai sorriu e disse.
-Cadê as tuas provas do ano passado, as que você fez antes
dessas?
-Estão
guardadas no quarto, por quê?
-Eu lembro muito bem delas e você melhorou o seu desempenho,
estudou mais, se aplicou mais, se esforçou!Isso é o suficiente, a consciência
de aprender. Escuta filho? Jamais fui um aluno igual a você, me orgulho muito
de você, é assim que temos que viver: não correndo atrás da perfeição, mas superando
os nossos limites.
Ela
não chorou, apenas disse.
-Papai, vovô está no céu?
Apertei
a sua bochecha, carreguei minha filha no colo até do outro lado da rua(coisa
que não fazia há muito tempo) e disse.
-Ele nunca saiu de lá filha.
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