A vida é
assim, ninguém gosta de monotonia, muito menos Osvaldo Barbosa Carvalho, futuro
gerente de compras e amado pai de família, por isso Osvaldo levantou naquele
domingo com vontade de levar Alerte e os três filhos para comer uma coisa
diferente.
-Você tem
dinheiro Osvaldo? – disse Arlete, com aquela cara de quem sempre sabe de tudo,
porque as mulheres são assim pensou Osvaldo.
-Cento e
setenta reais, mais que suficiente. Te pergunto: quem pode cobrar mais caro que
isso? – disse Osvaldo e sorrido acrescentou – relaxa Arlete, seja feliz.
Os filhos
ficaram eufóricos, Duda, Valeria e Pedrinho a sua turma de trigêmeos, faixa etária dos sete anos, levados, briguentos e entuziasmado.
-Pensa
positivo, para com essa negatividade, hoje é domingo Arlete, um dia temos que
sair da rotina – disse Osvaldo – segunda feira estou em emprego novo, viva essa
chance.
Arlete não tinha
nada a perder, quando Osvaldo metia uma coisa na cabeça era cabeça dura,
ninguém tirava, colocou os filhos arrumados no fusca, desceram a alameda e
foram rodar pelo bairro nobre, de dentro do carro a família avistou uma churrascaria,
isso sempre foi muito caro, a gente sabe que pessoas comem carne até morrer e
depois pagam caro, por isso Arlete não gostava da ideia.
-Olha só Arlete,
trinta e nove e noventa – disse Osvaldo – pensa num sonho, sempre quis comer
carne de Javali, aqui deve ter carne de Javali.
-Isso é caro,
olho da cara, conta direitinho o dinheiro do seu bolso, vão cobrar cinco rodízios,
você só tem dinheiro para três, não quero passar vergonha, olha bem, oitenta do rodizio, vinte da bebida e vinte e cinco dos dez por cento, fica muito apertado.
Osvaldo teve os sentimentos feridos, um pai de família
que tenha vergonha na cara, que tenho brios de macho alfa, paga o rodízio e pronto, não pergunta pra mulher, foi até o garçom e
conversou o preço, fez um pedido, argumentou, deu umas duas imploradas, falou que as crianças comiam pouco, o garçom
olhou com olhos de pena, seu olhar lembrava o do Papa Severino, quero dizer Francisco, Osvaldo pensou que
talvez fosse argentino e quis dizer que um dia o messe ainda encontraria o seu futebol na seleção, mas não falou nada, o garçom piedosamente olhou para Osvaldo, teve pena e disse.
-Está bem,
cobro dois rodízios e meio, vejo que você está com muita fome.
Osvaldo fez
as contas e disse.
-Fechado - disse Osvaldo.
Chamou Arlete,
correu para abraçar as crianças e levou as três para o incrível parque de
diversões.
-Senhor, não pode
usar o parquinho, sinto muito, ele esta em manutenção – disse um dos garçons.
-Pai que chato - disse Duda.
Sentou as crianças na marra e ameaçou de castigos brutais, viu duas crianças brincando no parquinho e foi reclamar com o garçom.
-São filhas do dono - disse.
Voltou aborrecido e disse para Arlete que a vida não era justa, como as filhas do dono podiam e os filhos dele não?
-Ele é o dono - disse Arlete.
-Você está do lado de quem? - perguntou Osvaldo procurando manter o auto controle
Com bebida
regrada de forma militar e carne a vontade, logo Osvaldo e Arlete estavam entalados de carne de todas as espécies, tomando água como se fosse champanhe: no biquinho, bem devagar para não acabar.
Depois do
filé alho e olho, que Osvaldo perigosamente comeu três pedaços, ficou doido
para pedir outro chope, nada, nem mesmo a promoção naquele momento valia mais que um chope, Osvaldo perguntou ao garçom.
-O preço é aquele
da placa, não? – disse com sorriso amarelo e fazendo as contas.
-Não senhor,
acho que está enganado, aquele é o preço da semana, o domingo é cinquenta reais – disse o garçom, Osvaldo correu
para a mesa e disse.
-Para tudo ,
não pede mais nada, estamos fodidos – disse alto, Arlete quase morreu de
vergonha, a mulher do lado sorriu. Arlete ficou olhando para ele como cara de
você está fodido, eu te falei antes que essa merda é cara.
-Não
sei como vou te falar isso – disse Osvaldo.
-Fala
homem, já sei que estamos na merda.
-é
cinquenta – disse sem olhar para a esposa - acho que extrapolei.
-Pai
eu quero água – disse o Duda.
-Cala
a boca Duda, que a gente já está indo, compro água para você no boteco ali na
frente, isso se sobrar dinheiro, lá em casa tem água a vontade – disse Osvaldo.
-Ele
quer água – disse uma senhora, a mesma que sorriu quando Osvaldo falou palavrão.
-Que?
– Osvaldo ficou surpreso com a intromissão.
-Eu
também – disse outro dos seus filhos.
-Garçom
a conta.
Depois
que saiu do restaurante pensou o quanto comer diferente era idiota.
DE JJ DE SOUZA
DE JJ DE SOUZA
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