A idade varia e nem
todos a alcançam, mas chega o dia em que a longa intoxicação da juventude
reflui. Os ânimos serenam, e a febre da razão retrocede. O mundo sempre foi
assim ou se tornou agora, só pra mim, tão distinto do que parecia ser? A
convivência com filhos (ou sobrinhos) pequenos e a presença de pais idosos (ou
falecidos) é um fator de mudança: a percepção do tempo deixa de ser tão
unilateral quanto na juventude. Fui criança, serei velho. Começa um balanço de
saldos, danos e perspectivas. Paralelamente, o otimismo espontâneo diante do
amanhã começa a ceder e dar lugar a uma ponta incômoda de apreensão. A voz da
sobriedade se faz ouvir: “É difícil lutar contra o desejo impulsivo; o que quer
que ele queira, ele adquirirá ao custo da alma” (Heráclito). Alguns despertam,
a contragosto, para essa nova etapa da vida com um inconfundível sensação de
ressaca na mente. “E agora, José?”

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